Disciplina - Língua Estrangeira Moderna

LEM

06/11/2018

Encontrado dicionário de japonês do século 17

No dia 17 de setembro passado, a professora Eliza Atsuko Tashiro Perez, do Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e o professor Jun Shirai, da Shinshu University, do Japão – atualmente professor visitante daquele programa -, descobriram um exemplar do Vocabvlario da Lingoa de Iapam, guardado no Acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

Publicado em 1603 em Nagasaki, no Japão, pelos missionários da Companhia de Jesus, com uma prensa de tipos móveis metálicos importada da Europa, a obra é um dicionário bilíngue japonês-português. O exemplar descoberto no Brasil é o quarto de que se tem notícia e o primeiro do continente americano. Os outros três estão na Bodleian Library, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, na Biblioteca Pública de Évora, em Portugal, e na Bibliothèque Nationale de France, em Paris (este último disponibilizado desde 2013 na plataforma Gallica Online). O exemplar achado no Brasil pertenceu à mulher do imperador D. Pedro II, Thereza Christina, e foi doado por ele depois da morte da imperatriz, em 1889, com a condição de que não tirassem o nome dela, escrito numa etiqueta.

A descoberta se deu graças a uma parceria entre a USP e a Shinshu University. Com parte da sua vinda financiada pela Japan Foundation, o professor Jun Shirai foi convidado a dar aulas e cursos no Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa da FFLCH. Já a professora Eliza investiga a produção dos jesuítas sobre o Japão e a língua japonesa. Com interesses em comum, eles foram fazer pesquisas na Biblioteca Nacional. Ali, tiveram acesso a um programa de busca da instituição e conseguiram localizar o dicionário “meio por acaso”, como conta a professora, já que a ortografia estava incorreta – Iapam estava escrito com “n”. Eliza lembra que, ao longo do tempo, a escrita vai se modificando e se atualizando, o que dificulta a busca por obras mais antigas.

Segundo o professor Jun Shirai, o dicionário é uma publicação importante, que registra mais de 32 mil palavras em japonês da época, que vai da segunda metade do século 16 até o início do século 17. A professora completa dizendo que é um registro da língua escrita e oral daquele período, ressaltando sua importância para o estudo da linguística, da literatura e da história. “Os dicionários japoneses não tinham tantas palavras como esse, porque, para os japoneses da época, não havia necessidade de incluir termos cotidianos, como anel, cabelo e óculos, por exemplo”, relata.

Resultado de uma cuidadosa observação da língua japonesa feita pelos jesuítas, o dicionário pretendia servir de ajuda aos missionários para o estudo do idioma. Credita-se sua edição ao sacerdote português João Rodrigues, mas isso não é comprovado, como afirma o professor Shirai, que acredita, assim como a professora Eliza, tratar-se de uma produção conjunta entre os jesuítas e os japoneses que tinham aprendido o português e o latim.

Há ainda outros dois dicionários impressos pela Companhia de Jesus no Japão: Dictionarivm Latino Lusitanicym ac laponicym (1593), de latim, português e japonês, e o Racuyoxu (1598), de ideogramas. Segundo a professora, essas publicações também podem ser descobertas no Brasil. “Essa possibilidade não é nula, já que em muitas bibliotecas há livros ainda em fase de catalogação e divulgação para o público.”




Esta notícia foi publicada no site jornal.usp.br/ em 10 de outubro de 2018. Todas as informações nela contidas são de responsabilidade dos autores.
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